sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Quando eu digo

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.

Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.

Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
nem se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor


Carlos Drummond de Andrade


Meu pai sempre me diz que a minha geração banalizou o ‘eu te amo’. E eu, claro, sempre fico na defensiva. Digo que, na realidade, ele que é saudosista e que a minha geração não fez nada com o ‘eu te amo’.

No entanto, por mais difícil que seja, hoje, eu concordo com ele.

Fato número um, nós ouvimos no ônibus, no metrô, nas ruas, na fila do cinema e, por um momento, eu me perguntei se era a única pessoa não dizendo ‘eu te amo’.

Fato número dois, sempre me incomodou muito ouvir ‘eu te amo’ de estranhos para outros estranhos (ouvir de estranhos para você mesmo também incomoda, fato). São momentos em que eu estou sentada no ônibus olhando pela janela, admirando a Paulista, e senta um infeliz do meu lado falando no celular e, ao fim da conversa, ele solta um ‘eu te amo’ tão insignificante e livre de emoção que me revolta.

É, me revolta. Todas as células do meu corpo fazem questão demonstrar minha insatisfação com esse ser que ajuda o mundo a banalizar ‘eu te amo’. Mas não serei hipócrita, entre amigos, é comum soltar aquele ‘amo vc’ ao final de cada recado via redes sociais. Será que amo mesmo?

Fato número três, quando amamos de verdade (se você é alguém que não acredita no amor, como você chegou até aqui no texto?), seja lá o que isso significa, soa verdadeiro. Porque soa vulnerável. Soa indeciso, não pela dúvida de amar, mas pela de expressar. Soa patético, se você não for uma das pessoas que ama ou que é amado. Soa transcendental, vai além da matéria desse mundo que conhecemos.

Fato número quatro, esse é muito pessoal. Eu só me incomodo com essa frase banalizada, quando eu estou amando. 

Fato número quatro, hoje, não quero ouvir nenhum ‘eu te amo’ banalizado. Quero aquele bom e velho "eu te amo" pausado, de mãos dadas e olhos nos olhos. É bom dizer, assim como ouvir. Eu gosto de sentir meu mundo de ponta cabeça.

4 comentários:

  1. "Porque soa vulnerável."
    soa muito vulnerável.

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  2. CONCORDO CONTIGO ATÉ FAÇO PARTE DE UMA COMUNIDADE NO ORKUT "DIZER EU TE AMO ,NÃO É DIZER BOM DIA!!!". O AMOR É MUITO GRANDE PARA SER DITO AOS VENTOS.

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  3. Eu concordo plenamente... tem pessoas que "amam" a todos e tudo, hehe. Gostei do jeito que vc escreve, pena que tem tão pouca coisa. =]

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