sábado, 27 de março de 2010

Consciência

Eu ia aproveitar a uma hora de luzes apagadas para escrever algo sobre o meio-ambiente. Mas não foi isso que fiz. Acabei me apegando à consciência.
Explico-me.
O fato é que tenho lido muito sobre como apagar as luzes hoje a noite seria bom para o meio-ambiente e tal... Mas, infelizmente, eu penso que a maioria das pessoas que estão no escuro agora não se lembrou de diminuir a hora do banho ou desligar a TV na hora de dormir. No entanto, passar esses 60 minutos no escuro será o suficiente para suas consciências.
Longe de querer discutir o que as pessoas deviam fazer para o meio ambiente (deixemos para outro dia), queria saber do se faz a nossa consciência.
Será que basta fingir?
Deveria arrumar o quarto, porém, apenas joguei todas as roupas no armário e fechei a porta.
Deveria ter feito o trabalho, mas acabei copiando o de um colega às vésperas da entrega.
Deveria começar a dieta, no entanto, segunda que vem, eu começo.
Será que bastou?
Eu acho que não.
Imagino a consciência como um grande baú.
Lá no fundo está tudo que acreditamos não usarmos, mas estão lá.
No meio, estão as coisas que não estão na ponta da língua, mas se você der uma mexidinha, elas virão à tona.
E, em primeiro lugar, está aquilo que nos tranquiliza ou perturba.
O armário de porta fechada está no primeiro plano do baú, junto com a dieta que começa na segunda e o trabalho já entregue.
No meio você vai encontrar a cara do professor quando percebeu que você não é o autor do trabalho, encontrará o cartão da academia que ainda não foi usado e a porta do armário aberta.
No fundo estarão os doces devorados, a insônia do dia anterior à entrega do trabalho não realizado e todas as roupas espalhadas atrás das portas fechadas do armário.
Se não houver turbulência, não há motivos para se preocupar. Mas a vida não é assim. E um dia ela te chacoalha de um jeito que não haverá como negar.
Espero que a vida chacoalhe a Terra e que venham à tona todos os banhos demorados, os computadores ligados por horas, as luzes acesas sem motivos, aquela ida à padaria de carro que poderia ter sido feita a pé e, claro, os 60 minutos de hoje, quando as luzes não foram apagadas.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Os vivos-mortos

Tem aquela noite que você sonha com aquela pessoa. Aquela lá que você achou que tinha esquecido. Aquela que você pensava sentir-se indiferente. Essa mesmo.
Você sonhou com ela. E, convenhamos, não precisamos de Freud para nos dizer: "Essa pessoa ainda vive em você".
É a reunião dos vivos-mortos (não mortos-vivos, já que essas pessoas vivem no mundo, mas apenas pareciam ter morrido para você, entende?).
Durante a reunião não há problema algum. É raro, enquanto o sonho acontece, perceber o quão estranho ele é.
Então você acorda.
E acorda com aquela sensação estranha. (Essa mesmo!)
Pensando: "Ã? Que estranho...."
No entanto, o estranho apenas começou, porque a partir daquela manhã você ressuscitará o morto que viverá em sua cabeça por sabe lá quanto tempo.
E o vivo-morto traz com ele toda uma bagagem de emoções, fatos, sentimentos que você achou que tinha enterrado com ele.
Ás vezes, esse ser deixa de ser morto para ser vivo novamente para você. Afinal, você sentiu falta dele.
Outras vezes, esse morto apenas o perturba. E, definitivamente, você não o quer vivo em sua vida.
Independentemente, o vivo-morto tráz um pouco de nós mesmos.
E esse pouco faz diferença.
Se formos sábios, acolheremos esse pouco e o usaremos para o bem. Se formos impacientes, ele será reprimido e você pensará estar bem.

Mas, lembre-se, o que não enterramos direito, sempre reaparece.