quarta-feira, 28 de abril de 2010

Maria

O nome dela é Maria. Ela queria conhecer o mundo. Ela conheceu Vincent.
Vincent conhecia o mundo. Ele não sabia o que queria. Ele conheceu Maria.

Eles se conheceram num ônibus, de maneira inusitada: ela tropeçou no pé dele. E foi suficiente encorajamento para ele falar com ela. Ou tentar, porque seu português era terrível. Então, falaram espanhol, porque ele falava alemão, ela não, ele falava sérvio, ela não, ele falava francês, ela não. Ambos falavam inglês, mas de inglês ele não gostava. Então, falaram espanhol (apesar dele pensar falar português).
Eles conversaram sobre muitas coisas. Sobre a vida, sobre São Paulo, sobre Berlim. Ela se encantou com seu jeito de rir de tudo, de ficar vermelho a todo momento e com sua curiosidade sobre, simplesmente, tudo, mas, especialmente, ela. Ele também se encantou, mas ela não sabe o porquê. O importante é que Vincent pediu o telefone de Maria e ela, sem muito pensar, concedeu.
Vincent ligou, de um telefone público, o que Maria achou muito engraçado. E eles combinaram de se encontrar. Quando se encontraram, não souberam o que dizer, não souberam o que fazer. Foi preciso tempo. Tempo, este que resolveu o problema. As inibições diminuíram e Maria até chegou a pensar que o português de Vincent havia melhorado.

O que aconteceu estava previsto para acontecer, no entanto, foi delicioso, como se inesperado. Maria beijou Vincent. A partir desse momento, não fez mais diferença o país onde ele nasceu, ou a falta de conhecimento do mundo dela.

Ela mostrou uma São Paulo sobre a qual ele nunca havia lido. E ele ensinou uma porção de coisas a ela, como, por exemplo, que a palavra chá vem do sérvio. Talvez isso pouco importasse para inúmeras pessoas, porém, para os dois, era de extrema importância.
Um dia, ele pegou um avião e voltou para a Alemanha. Mas, antes, ele se despediu de Maria. Ninguém chorou, na realidade, ambos sorriram. Eles se beijaram, pela última vez. Se abraçaram, pela última vez. E ele disse que iria voltar à São Paulo. Ela sorriu, mas não acreditou. Ela preferiu pensar que nada seria o mesmo outra vez e que era melhor ele levar essa parte da vida dela com ele. Maria e Vincent se olharam pela última vez.

Vincent voltou para a Alemanha para ser um grande artista. E Maria voltou para casa, para viver uma grande vida.

3 comentários:

  1. eu gosto de histórias assim. simples.

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  2. Acho lindo e ao contrário de você, acredito em um reencontro. Seja em São Paulo, Berlim ou na Sérvia, quem se importa? Afinal, como me disse uma pessoa uma vez: important people always meet twice. Acho que algumas vezes é isso que me faz seguir em frente. Estranho, né?

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  3. quem sabe, sabe, né. ;D adorei o texto.

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